segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dilma na tortura da história

Escrito por Paulo Moreira Leite

Agora conhecemos as revelações sobre Dilma Rousseff produzidas sob a tortura do regime militar.
Mas continuamos sem saber quem mandou torturar, quem torturou — e o destino de cada um. Isso é vergonhoso.
A reportagem de Matheus Leitão e Lucas Ferraz publicada pela Folha de S. Paulo tem méritos jornalísticos. Os brasileiros tem o direito de conhecer o passado político da presidente eleita.
Vamos esclarecer: nunca fui favorável às ações armadas contra o regime militar, discordo dos objetivos políticos de quem acha que o regime de Fidel Castro é modelo para algum país mas é preciso falar do passado com alguma seriedade.
Naquele Brasil dos anos 70  o país vivia sob um regime que derrubou um presidente constitucional e mudou o calendário eleitoral porque não pretendia devolver o poder aos civis. Não havia liberdade política, a tortura era praticada de modo regular e a oposição era perseguida com violencia.
Nessa situação, todo ato de resistência constituiu um gesto que merece respeito, apesar dos erros e desvios que possam ter sido cometidos. Isso vale também para a mãe que se mobilizava para proteger filhos presos, para o operário que fazia greve proibida, para o ator que protestava contra a censura e outros gestos semelhantes.
A busca pelas informações sobre o passado de Dilma Rousseff foi realizada em ambiente de criminalização e seletivo, porém.
Por coincidência, há poucas semanas o senador Romeu Tuma, um dos principais responsáveis pela repressão política em São Paulo, homem de ligação entre o serviço de informações do Exército e a máquina da polícia política, descansou em paz sem que seu passado despertasse a mesma curiosidade e interesse.
Denuncias de presos políticos torturados durante a longa gestão de Tuma no DOPS estão aí na internet, mas ficaram no ar.
Os elogios da imprensa a Tuma chegaram a provocar uma reação indignada por uma parte de presos políticos mantidos sob sua responsabilidade.
Não sei se essas denúncias são verdadeiras. Mas acho curioso que ninguém tenha tido o interesse em apurá-las.
Essas informações são importantes para que se possa conhecer o real contexto da época e entender que um regime violento produziu atos violentos de resistencia.
Não é de espantar que, pouco a pouco, o passado seja criminalizado. Outro dia, uma adolescente de 18 anos, em dúvida na hora de votar, chegou a me perguntar se era verdade que a futura presidente havia assaltado bancos.
A adolescenta não está errada. Quem está errada é nossa memória. Só olha para um lado.

Fonte: blog época 

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