segunda-feira, 24 de novembro de 2008

POR QUE A VIDA?

Conta-se que o grande poeta italiano de nome Giacomo Leopardi proferiu as seguintes palavras aos que cuidavam dele pouco antes de morrer: “Deixe-me ver a luz”. Isso sugere o apego desesperado do homem à vida, representada pela luz.

Esse apego à vida é um impulso muito precioso que nos leva, na grande maioria das vezes, a evitar perigos e fazermos todo possível para continuarmos a viver. Queremos viver, não porque somos totalmente felizes, ou porque somos perfeitos, ou porque temos uma esperança bem fundamentada de que tudo vai melhorar em nossa vida ou na vida das pessoas que amamos. Em realidade, queremos viver por que o nosso instinto, que nesse caso é igual ao instinto nos animais, nos diz que precisamos viver.

Mas, por que precisamos viver? O que faz com que a vida valha apena? As respostas a essas perguntas não são fácies, em realidade, juntas com algumas outras, talvez sejam as mais difíceis de encontrar. Para alguns o ciclo da vida está apenas em sermos gerados, nascermos, crescermos nos reproduzirmos e morrermos. É só isso? Talvez a vida seja mais do que apenas isso. Alguns vivem para ganhar mais dinheiro, e fazem isso se esquecendo de viver, outros vivem em busca da felicidade eterna e acreditam inexoravelmente que o sexo casual, que os encontros tórridos em motéis, que relações sem nenhuma profundidade são a fonte dessa pretensa felicidade, outros ainda afirmam que a vida feliz está nos detalhes e preocupa-se tanto com os detalhes que se esquecem de viver as grandes coisas que a vida prepara.

A verdade é que podemos ser como um rio raso que mostra suas características e qualidades sem exigir que nos abaixemos muito ou entremos nele para conseguir entendê-lo verdadeiramente. As pessoas estão cada vez mais transparentes na maneira de agir, não no sentido de clareza de mentalidade ou de espírito, e sim, no sentido mais obscuro que podemos relatar. Nós (as pessoas) temos repetido cada vez com mais constância os erros que nós (as pessoas) já havíamos cometido antes. Viver tem sido apenas uma repetição das mesmas histórias de vidas tristes e inconsistentes. Vidas que retardam e enfraquecem o significado da palavra “viver”.

A vida é bem mais complexa que morte. Na vida você pode chorar, sentir dor, ver mais do que queria ver, sentir cheiros que não queria sentir, viver irritado com a fechadura que emperra sempre, com o computador que não liga, com o vizinho que coloca músicas muito altas durante todo o seu dia em casa. Justamente aquele dia que você tirou para descansar de um trabalho que está te sugando, de um chefe chato, de um colega que só vive te pedindo dinheiro emprestado. Quando você liga a tevê percebe que outras pessoas têm tantas ou mais coisas que você, para viverem irritadas, para viverem tristes e para não desejarem ver a luz. Mas a luz representa a vida e vida representa esperança, não uma esperança consciente, cheia de convicção, a vida apenas representa a esperança de viver de uma forma diferente, embora tudo sendo, aparentemente feito como antes. Morrer é muito mais fácil do que viver, porque morrer por definição é apenas a ausência da vida.

Mas deixem-me ver a luz, quero ver a luz que entra por meio de uma fresta da janela do meu quarto dizendo que quando eu levantar poderei me valer daquilo que torna a vida mais gostosa, que é a necessidade de fazer alguma coisa que nunca fiz e a capacidade de viver de uma forma que nunca vivi.

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