sábado, 13 de setembro de 2008

LINHA DE PASSE




Nossa busca pelo que é real pode nos trazer algumas agradáveis surpresas. Temos procurado o real (não é a moeda brasileira. A realidade é que procuramos isso também.) em livros, revistas, filmes, músicas, quadros, etc. Quando talvez seja mais sensato procurarmos o que é real observando ou a nós mesmos, ou a outros seres humanos.

 Foi justamente isso que me surpreendeu. Fui recentemente assistir o filme “Linha de Passe” de Walter Salles e notei que o que tanto procuro, foi encontrado por outra pessoa. Não vou conseguir explicar o que ele encontrou, não vou conseguir falar como ele se sentiu e sobre tudo, não vou tentar afirmar que ele tenha ciência de que encontrou esse “algo-real”. O que vou fazer aqui é mencionar como me sentir.

O primeiro sentimento que me veio foi o de que eu estava diante da obra de uma pessoa privilegiada. Depois, sem conter a emoção, me vi tomado pelo desejo de entender como ele conseguiu fazer aquilo (coitado de mim). Permaneci atônito assistindo esse filme que classifico como obra de arte do mais alto nível. 

Penso que Walter Salles fez uma reflexão, incluindo a ele mesmo como objeto desse ato. Por que a arte é isso: o inconformismo diante do conforme (e muito mais do que isso). Walter fez uma viagem reflexiva e nos levou junto com ele, sem nos deixar pensar no perigo que talvez estivéssemos correndo se permanecêssemos sem reação diante do que essa viagem nos apresenta. Para que se possa entender esse perigo o melhor caminho é entendermos essa viagem.

A viagem

Essa viagem começa com a ciência de que é bastante improvável vermos um Brasil mais real do que o apresentado por Walter Salles. Para se entender uma vida, quase que basta apenas vivê-la. Além é claro, de observá-la em todas as suas particularidades. O “real” desse filme está no fato de nos fazer sentir vivendo toda aquela situação e nos deixar cientes de que diferente da ilusória verdade que alguns filmes, livros, revistas e até músicas apresentam, esse filme mostra, sobre tudo, que a vida de cada um de nós pode ser permanentemente aquela vida apresentada de forma tão feliz nessa obra.

A vida é assim, alguns podem mudar tudo em sua vida, mas preferem vivê-la de forma curta e superficial. Outros a vêem como possibilidade de fazer algo de certa forma igual a muitos, contudo, que pode trazer imensas mudanças e com essas, muitos benefícios. Ainda alguns procuram no espiritual algo para se conformar com o fato de que a solução para os nossos problemas não está nas mudanças que podemos fazer aqui no campo físico-psicológico. E por fim, alguns, quase que ingenuamente, imaginam que a felicidade sempre está em outro lugar, ou com alguém, que não são as pessoas que nos rodeiam. É assim a vida, ou pelo menos, uma parte dela. Walter Salles - como sua idiossincrasia - me fez ir além do que minha realidade me mostra todos os dias.

Os atores foram extremamente felizes em como encenaram a tarefa de interpretar a vida de muitos brasileiros que ficam numa Kombi depredada, que talvez tenha sido a esperança de mudança na vida de alguém.

Para terminar vou falar de Cleuza. Esse personagem representa muito bem a mulher, que luta para alimentar os filhos e que morre de medo de perder uma de suas crias para o tráfico, para violência. Essas mulheres que são corajosas, guerreiras, versáteis. Muitas vezes deixam o orgulho de lado e vivem somente em função de quem, para elas, tem um futuro brilhante pela frente. Em realidade, penso que essa tenha sido a mensagem que o filme quis passar. O que mais alimenta o sonho dessas mulheres é a esperança. Esperança de encontrar novamente a felicidade que por um segundo sentiu. Esperança de que os que ela ama também tenham essa felicidade.

Talvez essa esperança tenha sido representada pelo fato de Cleuza está torcendo pelo Corinthians, justamente na oportunidade em que esse time – que já teve tantas glórias – estava perto de descer para a segunda divisão do campeonato brasileiro. E só o fato dela saber que a única maneira de ajudar seu time de coração era torcendo muito e oferecendo boas vibrações, a deixava triste impotente. Como se da permanência do Corinthians na primeira divisão, dependesse todo seu sonho, toda a sua esperança.

 Nós humanos somos assim. Vivemos de sonhos, mesmos que a realidade fria e calculista, sempre bata à nossa porta.

Gostaram da viagem (pergunta)

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