quinta-feira, 7 de abril de 2011

O discurso de Aécio e a nova era na política

Já escrevi outras vezes e reitero: a ascensão de Aécio Neves, Eduardo Campos e outros menos votados marca uma nova era na política e a consolidação definitiva do amadurecimento político brasileiro.
Essa consolidação passou por dois momentos.
O primeiro, a derrota do estilo Serra-Bolsonaro nas eleições presidenciais. Se o estilo abjeto, a exploração do preconceito, da difamação, tivessem sido vitoriosos, hoje o país estaria em pé de guerra. Todo o trabalho civilizatório plantado por sucessivos governos, passando por FHC e Lula, teria ido água abaixo, no esgoto que marcou para sempre o estilo Serra.
O segundo momento é a derrota desse mesmo estilo na definição da nova oposição. A grande batalha civilizatória, após as eleições, se deu no campo das oposições: da liderança civilizada versus a barbárie, representada por Serra.
Também aí, houve a vitória da civilização. E o discurso de Aécio, apesar de pouco consistente - não se poderia esperar um plano completo, em plena transição política - é um marco no amadurecimento político do país.
O papel da oposição
Em qualquer democracia, é fundamental o papel da oposição. É ela quem contem desmandos de qualquer governo, define a competição que impede o acomodamento, apresenta alternativas, criando a dinâmica que mantém a vitalidade da democracia.
Faltam inúmeros pontos programáticos na oposição. Aécio não representa ainda um pensamento sistematizado, ainda é uma lousa em branco. Como, aliás, era o PT depois do plano Real, enfrentando inúmeras dificuldades para consolidar um novo discurso.
Mas é a melhor alternativa para a consolidação democrática do país, porque representa – do lado da oposição – a negociação, a crítica civilizada, construtiva, sem golpismo, sem pressa.
Ele tem duas bandeiras claras. Uma, a da gestão, infelizmente (para ele) encontrou pela frente a melhor gestora pública nacional sendo também presidente da República. A outra, o da negociação política civilizada. Esse é o seu trunfo, embora o fantasma da irmã Andrea Neves o acompanhe.
Com o tempo, a oposição terá que construir um novo discurso, mas pensando no longo prazo. Terá que recuperar a racionalidade de um José Roberto Affonso, trazer um novo pensamento político e econômico, descobrir novos Bresser-Pereira (porque o notável Bresser desistiu do PSDB depois de ver a cara pintada por Serra), novos Mendonças de Barros, novos Gianotti e Fausto com arejamento, com capacidade de enxergar o futuro daqui a dez anos, novos gestores imaginativos para, pouco a pouco, ir compondo uma nova plataforma política, tendo como peça central a tolerância política.
Os novos paradigmas
O período FHC legou um conjunto de conceitos que já não entusiasmam, por terem se convertido em valores nacionais – a defesa da estabilidade econômica, a responsabilidade fiscal (que, a rigor, o próprio governo FHC não praticou) - e por serem restritos, apenas peças, ainda que relevantes, de um desenho de país muito mais amplo, que o "tosco" Lula intuiu e o "sofisticado" FHC nunca entendeu.
Por outro lado, a entrada em cena dos paradigmas da era Lula – governo participativo, foco no social, foco em políticas voltadas para a geração de emprego, nova visão de país no mundo – pegou o PSDB de FHC de calças curtas, tornou anacrônicas as decisões de gabinete, a visão falsa do administrador na redoma. Sem contar o estilo Bolsonaro, trazido por Serra na campanha, que esfrangalhou a imagem do partido que, outrora, abrigou Covas, Montoro, Grama.
O PSDB possui duas vitrines para se contrapor ao governo Dilma: Minas e São Paulo. Minas está nas mãos de um dos melhores gestores públicos do país: Antonio Anastasia. Tem Eduardo Campos, em Pernambuco, mas estado sem a dimensão política de Minas.
São Paulo ainda não definiu um modelo de gestão à altura do seu potencial. Alckmin não foi um governador brilhante e Serra foi o mais ausente dos governadores do estado, com um grau de desinformação sobre políticas públicas que só encontrei, antes, em Luiz Antônio Fleury.
Se tivesse cabeça mais aberta, Alckmin teria à sua disposição os melhores quadros técnicos, as melhores universidades, institutos de pesquisa, as empresas mais modernas, recuperaria a capacidade de análise da Fundap, tiraria a Fundação Seade da lama em que foi jogada por Arnaldo Madeira, montaria think-tanks no Planejamento.
Mas falta pensar grande. Muito dificilmente haverá um "estalo de Vieira" na sua cabeça.
A vitalidade da democracia e a blogosfera
 Mesmo assim, haverá uma disputa que melhorará a todos, tanto o governo federal quanto os estaduais. Todos terão que perseguir resultados, buscar o novo, desenvolver novas formas de participação popular, negociar com sindicatos, associações empresariais, sociedade civil.
Dia desses conversava com um dos melhores ministros de Dilma. Ele sentia falta do fogo no rabo da campanha eleitoral. Havia reuniões diárias para corrigir erros, aprimorar, responder às críticas fundamentadas ou aos factóides.
É essa dinâmica que faz da política o grande agente restaurador.
E a blogosfera também terá que se adaptar aos novos tempos.
Não dá mais para o jogo de torcidas e de ofensas, seja de que lado for. As discussões terão que se dar em torno de ideias, conceitos, discussões civilizadas, de tratar o outro lado como adversário, não como inimigo, de estimular o contraditório e de focar nos grandes problemas nacionais.
Apesar dos avanços dos últimos anos, o Brasil ainda é um país que desestimula o empreendedorismo, que está sob o peso de normas burocráticas massacrantes, que não criou condições de competitividade para enfrentar economias mais eficientes, que ainda falta avançar muito na infraestrutura, que terá que dar novos saltos nas políticas de inclusão social.
Nesse novo quadro, não dá mais para manter a guerra de trolls de ambos os lados. É hora do salto de amadurecimento, de recuperar a crítica necessária, e de apostar na tolerância.

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