quinta-feira, 31 de março de 2011

Aos meus amigos. Hoje é meu aniversário.

Hoje 1º de abril de 2011, uma sexta-feira, eu estou, como em outros poucos anos, comemorando (comemorando não, eu detesto isso) meu nascimento. Como não gosto de festejos e nem sou afeito a muitos parabéns, resolvi compartilhar com vocês aquilo que me faz feliz. Acredito que parabenizá-los por visitar meu blog, ler alguns dos meus poemas, comentar alguns dos meus artigos, ou fazer o mesmo em relação aos outros tantos artigos que posto aqui, é uma das formas de me trazer felicidade.

Meu maior desejo é falar alguma coisa que seja necessária, que seja verdadeira, que não tenha compromisso com coisa alguma, mas, que seja percebida em cada coisa tratada em nosso quotidiano.

Detesto comemorar aniversário porque ainda não existo. Tento ser gerado todos os dias, mas sou sugado pela vida besta, pela insignificância, pelos sorrisos. Me envolvo nas coisas naturais e simples da vida, acreditando que vou poder explorar os mais variados sentimentos e condicioná-los aos meus serviços. Não existo porque não sei o que escrever, e não saber o que escrever me imprime um selo de inexistência.

Contudo, embora me sinta uma mera ilusão, as pessoas (meus amigos ) conseguem me ver ainda que eu mesmo tenha dificuldade. Confesso que em alguns momentos o fato de me ver através dos olhos dos que me ama, me emociona ao ponto de me fazer possível, existente, verdadeiro. Meu grande dilema hoje é saber que só existo porque meus amigos me transformam em algo real. Sem vocês eu sou meramente o silêncio que insisti em pairar pela superfície do lago, imaginando que conquistará algum dia o direito de ver o próprio reflexo.

Hoje eu acredito que a forma mais clara de não existir, é não ter amigos. E quando falo de amigos, não me refiro a sombra. Refiro-me a alguém de personalidade firme, sorriso indistinto, sono durante uma longa conversa, palavrões grotescos, receio de magoar, coragem para pedir perdão, e de mais coragem ainda para dizer que ama. Eu tenho certeza que sou o reflexo nos olhos dos que me ama, e permito que meus olhos reflitam aquilo que percebo de mais humano – quer seja feio ou bonito – naqueles que amo. Como digo numa dos meus poemas, o amor, é a vontade dissimulada de viver.  

Um grande abraço para todos meus amigos! Obrigado, por me ajudar a existir.


Vou compartilhar com vocês, dois dos meus amores:


ANIVERSÁRIO (Fernando Pessoa)


No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!... 

0 COMENTÁRIOS AQUI:

 

Fala Particular Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger