Com quantas polêmicas se constrói uma blogosfera?

Pegue uma certeza enviesada, pragmatise, preconcetue e finja-se de tolerante. Acrescente um pouco de vaidade, arrogância e egoísmo, sem esquecer a graça supérflua e ilusória da sobriedade. Junte tudo em um recipiente e seja vítima.

Embora pareça uma opção, não é. Porque a escolha está atrelada a circunstâncias precedentes que existem em função de uma reação adversa a equívocos e/ou novidades. Coisa que acontece em todas as esferas de relacionamento. E na blogosfera não seria diferente.

Recentemente notei uma enxurrada de críticas ao caro amigo Nassif. Sem saber muito bem do que se tratava fui acompanhando postagem por postagem a reação das pessoas e até do próprio Nassif. Cheguei a comentar:

@luisnassif Meu caro amigo, que discussão boba é essa? Tava trabalhando e agora estou vendo acusações e mais acusações.

E ele respondeu:

@luisnassif Bota bobeira nisso RT @JoubertBarbosa: @luisnassif Meu caro amigo, que discussão boba é essa? T  

Fiquei por aí. Contudo, visto que esses dias tenho trabalhado muito e lido muito também, não tive o acesso aos blogs que costumo visitar. E não sabia que tinham “criado” uma polêmica nova, que para mim já era velha (e confesso, pequena). Homens por quem tenho grande admiração lançando acusações uns contra os outros por causa de uma questão que não precisaria se prolongar, se meu amigo Nassif pedisse desculpas mais rápido do que o fez. Mas, sem querer defendê-lo, digo apenas que como eu, ele deve ter pensando que o assunto não renderia.

Engano dele, e meu. Parece até que estamos carentes de polêmicas. Nossos intelectuais, jornalistas, acadêmicos e jovens (outros nem tão jovens assim) blogueiros, estão carentes de assunto, quando não, de polêmicas. Lembro-me de uma crônica do grande Rubem Braga em que apresentava a vida comum, boa e tranqüila, como uma fonte muito ruim de notícias. Era, e ainda é, importante que existam polêmicas e mais polêmicas para que sejamos vistos, e nos vendamos como paladinos das verdades absolutas. Oscar Wilde disse que “o cínico sabe o preço de tudo, mas não sabe o valor de nada”. E embora eu não derrame toda minha aceitação nessa frase, sei que entre a loucura e a mentira existe um traço de verdade.

É importante deixar claro que não considero o preconceito um assunto pequeno. O que chamo de pequeno, superficial e sem substância, é o fato de queremos aprofundar uma questão que foi fruto - me parece - da falta de atenção.

Se quisermos combater algum preconceito, seja ele qual for, precisamos construir argumentos fortes e direcionarmos as questões aos envolvidos. Não creio ser necessário permitirmos esse jorro de argumentos profundos, que soam mais como produtos da arrogância, do que propriamente preocupação com injustiças.

Penso ser extremamente importante que discordemos, que discutamos, levantemos questões. E até acho que isso de alguma forma contribuirá para que a blogosfera continue crescendo e se firmando como um espaço de discussões profícuas e substancias. Um espaço que tem compromisso direto com as notícias e com a sociedade.

Ser um blogueiro de esquerda, termos nos denominado progressistas, não quer dizer que não existam discordâncias e até aborrecimentos. Outro dia, durante o último encontro com os membros do Mercosul, o presidente Lula falou uma coisa que reproduzo aqui agora: “O Mercosul não é convento de freiras... Divergências fazem parte do processo democrático”. Provavelmente isso poderia ser: a blogosfera não é uma reunião de freiras e nossas divergências devem ser encaradas como parte do processo de identidade democrática na rede.

Não tenho dúvida de que seria uma grande bobagem, tanto do Nassif quanto de qualquer outro blogueiro de maior proeminência, se distanciar do todo que forma essa blogosfera progressista. Estamos criando uma história fantástica. Não sejamos tragados pelo egocentrismo.

As verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global. – José Saramago.