segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As palavras de Saramago



Quando eu morrer... se pusessem uma lápide no lugar onde ficarei, poderia ser algo assim: “Aqui jaz, indignado, fulano de tal”. Indignado, claro, por duas razões: a primeira, por já não estar vivo, o que é um motivo bastante forte para indignar-se; e a segunda, mais séria, indignado por ter entrado num mundo injusto e ter saído de um mundo injusto.
O que eu digo é que tenho, como cidadão, um compromisso com o meu tempo, com o meu país, com as circunstâncias, digamos, do mundo. Eu não posso virar as costas a tudo isso e ficar a contemplar minha obra. O futuro irá julgar a obra do autor, mas o presente tem o direito de fazer um juízo sobre o autor, o que ele é.
Não vou usar a literatura, como nunca fiz, para fazer política; isso não faz parte dos meus planos.
Estou comprometido com a vida até o último dos meus dias, e me esforço para mudar as coisas, e, para isso, não tenho outro remédio que não seja fazer o que faço e dizer o que sou.
Ao poder não peço nada porque nunca dá nada. Ao poder tem que se arrancar o poder, diminuí-lo, porque não necessita de ser absoluto para corromper absolutamente.
As verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global.

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