domingo, 28 de novembro de 2010

Chico Buarque vale mais como escritor do que Edney Silvestre

Edney Silvestre/Chico Buarque
Quem deveria ter ido para a Academia Brasileira de Letras: o político Juscelino Kubitschek, que não sabia escrever e tinha alguns ghost-writers, ou o escritor Bernardo Élis, que, ao contrário do concorrente, escrevia seus próprios livros? Bernardo Élis, é claro, mereceu ser eleito para a ABL. Porque era o escritor de fato e de direito. Uma vitória de JK teria a ver apenas com política, com um ataque inútil à ditadura civil-militar. Se a ditadura ajudou Élis, palmas para a ditadura: fez a coisa certa. 
O mesmo ocorre agora. Chico Buarque ou Edney Silvestre: quem deveria ter faturado o Prêmio Jabuti/Livro do Ano de Ficção? Pela lógica, por ter levado o Prêmio Jabuti de Melhor Romance (Chico ficou em segundo lugar), Edney, autor de um único romance, “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, e recém-chegado ao “clube” dos escritores, deveria ter sido o premiado. Mas, comparando romance com romance, não há dúvida de que Chico Buarque é muito mais escritor e “Leite Derramado”, que levou o Jabuti de Livro do Ano de Ficção, tem mais qualidades literárias. Edney pode até ser uma promessa, mas seu livro é frágil como romance, mesmo se visto tão-somente como romance policial. Chico, que não me agrada muito como escritor (filho tardio do nouveau roman), é muito mais senhor da forma-romance do que o ótimo repórter global. Então, mesmo errando, o Jabuti premiou o melhor escritor. Houve ingerência político-editorial? É possível. Tanto que, em Portugal, Chico levou o Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2010, com o mesmo romance, “Leite Derramado”. Mas quem vai faturar mesmo com a história, depois de tudo, será Edney. Apesar de trabalhar na Globo e de ter arrancado resenhas elogiosas, talvez de críticos que nem leram o livro mas quiseram agradar o simpático global, que sempre entrevista escritores e críticos literários, Edney é um prosador desconhecido, de qualidade discutível, e sua obra certamente seria ignorada. Agora, pelo barulho que fizeram, vai ser lida e o autor vai se tornar tão conhecido quanto Chico. Ele pegou uma boa carona na garupa do escritor-compositor. 
Depois de ter declarado voto em Dilma Rousseff, não será surpresa se o governo brasileiro apresentar o nome de Chico como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura nos próximos quatro anos. 
Como escritor, Chico continua excelente compositor, superado, talvez, apenas por Noel Rosa. É o gênio mais refinado da música popular brasileira, acima, duas notas, de João Gilberto e Tom Jobim.

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